Com efeito, ao longo da obra perpassa, na globalidade, um negativismo que acaba por se concretizar no “falhanço” de todas as personagens. Desde os mais hipócritas, molengões e indiferentes até aos mais viajados, superiores e nobres, tudo falha numa total irrealização de ideias e projectos jamais concretizados. Contudo, importa referir que não constitui surpresa o facto de Pedro da Maia e Eusébiozinho, por exemplo, falharem. Espantoso é, de facto, que as pedagogias de Brown (anti-românticas e anti-portuguesas) conduzam ao falhanço de um individuo inicialmente enérgico e cheio de vontade de vencer, mas que aos poucos vai adiando a realização dos seus projectos até que estes definitivamente adormecidos no seu diletantismo. Que aconteceu a Carlos? Que se passou com a sua geração (Ega e Carlos) tão lutadores e ardentes nos seus tempos de Coimbra e agora tão cheia de sonhos incumpridos e irrealizados; que os levou a considerar no final da obra (Cap. XVIII) que falharam a vida, considerando mesmo que não vale a pena viver? Pode dizer-se que o contexto deplorável e mesquinho que os rodeava não permitiu o seu triunfo e aniquilou-os pela raiz, destrui-lhes os sonhos, transformou-os e tornou-os seres absolutamente indiferentes a tudo e até à própria vida. Na verdade, o Portugal de então não tinha dignidade, perdera a alma social e afundava-se numa subserviente aceitação de tudo o que vinha de fora, desprezando os valores e tudo o que era nacional. O País transformara-se num lugar impossível de realização de ideias e projectos e só lhe restava morrer para, eventualmente, renascer mais tarde com outra alma onde a dignidade reinasse. Com a morte de Afonso, o varão de outras idades e o símbolo de um Portugal antigo, forte, vigoroso e heróico, extingue-se a raça e Portugal permanecera desconsoladoramente na mesma. Carlos e João da Ega no passeio final pelas ruas de Lisboa, analisam Portugal com um forte pessimismo como se aí, todas as ideias e todos os sonhos, mesmo os mais ardentes (e aparentemente indestrutíveis) se desfizessem em poeira, desilusão, ociosidade e conformismo.
Poder-se-à relacionar o percurso de Carlos ao longo da obra com o dos homens da geração de 70? Obviamente sim. À semelhança das figuras da geração de 70 lutaram de forma ardente e violenta pela implementação dos seus ideais, deram continuidade a essa luta através da realização das conferências do casino, nas quais procuravam retratar e denunciar múltiplos aspectos da sociedade e, finalmente os “Onze de Bragança” era ainda um grupo que se reunia mas cujas finalidades eram exclusivamente de convívio de mentalidades afins e de diversão, evolvidas por uma áurea de snobismo e diletantismo intelectual. “Os vencidos da vida” foi o nome escolhido para este grupo que simbolizou a direcção aristocrática e intelectual do movimento de 70 em conflito com os valores vigentes do constitucionalismo e de onde emergiu um profundo pessimismo e desencanto.
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